sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O que se vê, ouve e lê no dia a dia. Episódio de hoje (quarto da série): o caderno do "papai".

(continuação)

No lapso entre a fedentina dum cigarro e outro, "papai" busca e traz o material contendo o aludido texto de sua lavra.

Caderno surrado, tipo sobra escolar, sortidas "orelhas de burro", sujo e malcheiroso a tabaco. Em contrapartida, "rico" em rasuras manuscritas - amorfas e assimétricas, ora a grafite, ora a tinta. Os garranchos do "intelectual" ignoravam as linhas (pautas), numa sequência de aclives e declives, espalhando-se praticamente em espiral. Enfim, um rascunho surreal do imaginário mapa do inferno...

Não quis contrariar, mas achei deseducado tratar de assunto alheio ao propósito festivo da noitada. No entanto, àquela altura encarei a "questã" ou "cuestã" e os "poblema" da "riscaiada" (diz-se assim no "corretíssimo" português do sabichão).

Sem intenção de tergiversar, corri os olhos sobre o conteúdo, um hilariante labirinto hieroglífico. De cara, falei da necessidade de corrigir quatro das cinco primeiras palavras decifradas, afora a pontuação. Isto bastou para o párvulo disparar seu modus operandi. Sem tirar o cigarrinho da boca, balança o "prego" no ritmo da fala (incrível, não cai...) e sob cinismo solta o verbo dizendo "... ah, jornalista é? é jornalista, é? jornalista?". E decreta: "tu não sabi iscrevê, meu... o sinhor não sabi iscrevê...".

Fumando vorazmente o mata rato, sente-se corajoso e encouraçado, louco pra perguntar "tu sabi com quem é qui tu tá falando, meu?".

Desisti, em respeito à ocasião, ao clima de festa e ritmo de primeira vez! Ele, porém, confundiu educação com medo, mantendo a cara feia, como sempre.

Constatação: muitos transpareciam temê-lo. Por quê? Façam suas apostas...

(continua...)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O que se vê, ouve e lê no dia a dia. Episódio de hoje (terceiro da série): o jeitinho do "papai"!

(continuação)

Inútil e desnecessariamente, "papai" me foi apresentado numa distante noite gelada de Agosto, porém festiva. A cordial apresentadora vale-se da ocasião e sugere-lhe mostrar uma redação da lavra dele (não era aquela em azul, do episódio anterior).

"Vai lá buscar aquele teu caderno com aquele teu texto pro blog de vocês e mostra teu texto pro Luciano. Ele é jornalista... pode revisar e até dar umas ideias...”, determinou.

Por alguma razão o pedido dela, mesmo gentil, soa desafinado aos tímpanos do ranzinza, afetando imediatamente sua polaridade, a ponto de alterar a fisionomia e a postura do camarada. Péssimo cartão de visita, não?!

O jeitinho do "papai":

Agitado, "óclinhos" na pontinha do narigão, cabeleira sebosa e mal cuidada, pescocinho encolhido, olhos frestados, boca alargada em curva pra baixo e lábios afinados - igualzinho a parêntese deitado ou emoticon de mau humor. Cigarrinho no canto "do beiço". Cotovelos dobradinhos, bracinhos afastados do tórax e um pouco pra trás. Mãos espalmadas e viradas para a cintura. Dedinhos cor de nicotina oscilando em forma de onda, tipo digitação, dando a impressão de querer sacar um trabuco, tal qual cena de faroeste, a fim de imolar a vítima da sua alcalinidade.

Nesta pose ridícula quer meter medo? Ou sendo telespectador e cinéfilo fanático talvez só deseja encarnar cenas de bang bang e dar asas à obsessão televisiva, fartamente servida pela sua complexa parafernália parabólica de luxo, apesar daquela clandestinidade requerer amiúde atualização via Internet, segundo ele. A propósito da pirataria, nem a superfície marciana tem tantos canais...

Evitando mais fiasqueira, o endeusado vai buscar o solicitado vade mecum de sandices! Demora, mas traz, fumando um na ida e outro na volta!...

(continua...)