quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que se vê, ouve e lê no dia a dia. Episódio de hoje: prendedor enfurece "papai"...

À toa pelo pátio, a menina vê e junta um já inútil prendedor de roupa (grampo). Estava misturado à caliça, baganas e sucatas. Pelo aspecto, há muito disputava espaço com a sujeira e traquitanas.

No afã de brincar, trata de dar “vida” ao objeto, criando um personagem. Até “monologa” com ele – fruto saudável e típico da imaginação, criatividade e inocência infantis!

Surrada pelo tempo e sem valor, a peça só fazia parte do lixo de luxo, também esperando a próxima vinda natalina do executivo de restolhos (popular carroceiro) – comum na periferia e íntimo do “simpaticíssimo” dono da casa - colecionador e depositário de quinquilharias, ferro velho e outras porcarias!

Detalhes à parte, ela brinca, conversa, brinca, ri, brinca e se distrai à beça com o grampo. De tão entretida, não percebe a sorrateira chegada do pai. Mas diante da irritação e dos enfurecidos berros do nanico de coração rente à boca, a menina abandona a ideia e dá adeus ao “amiguinho prendedor”, cedendo lugar ao medo e ao choro soluçante, apesar de “acostumada” aos brados do tradicional tratamento raivoso, fétido a cinzeiro.

Irritado, o inveterado tabagista – obstinado e nervosinho – evacua seu paupérrimo verbo (português) sobre a frágil garotinha com menos de dez anos. Possesso e descontrolado, excede o limite e vocifera em “defesa” do suposto valor comercial daquele grampinho, como se fosse feito de ouro ou plutônio, mas desvalorizado pela filha, na suposta “opinião ultra abalizada” dele.

Exagerou e mentiu!

Vomitando o sórdido sermão o algoz não mediu esforços para humilhar sua vítima e catalisar a cena na base do grito, única arma da sua embófia. Só as tragadas no cigarrinho ou gigolô de pulmões interrompiam sua fúria.

Apesar de familiarizada com a estilosa educação a berro, a pequenina assustou-se, passando do lúdico ao alvo da ira do franzino defumado.

A logorréia à moda inquisição dispara e tortura com perguntinhas cínicas, cretinas e repetitivas. “O qui qui é issu aí? O qui qui é qui tu tá fazendo com issu aí?. Tu sabi o qui qui é issu aí? Sabe qui issu aí custa dinheru, sabia qui issu custa dinheru, custa dinheru... tu sabia, tu sabia qui issu custa dinheru?”.

E o cigarrinho do “coronel”, quanto custa? Nada? Ou seria troco de prendedor de roupa? Não custa dinheiro? Ou o cuera não sabe ou não tem noção sobre o que custa dinheiro? Ou isso é “poblema” seu? De fato, o custo do vício é “poblema” dele, ou melhor, problema, mas só até não conseguir subir sequer um degrau sem auxílio ou parecer uma égua afogada, ou ser vencido pelo próximo AVC. Eis a "questã" ou "cuestã", aliás, questão.

O apoucado metido a galo e sabichão deveria enfrentar alguém do tamanho dele, ou maior, em vez de lançar a prepotência machista sobre indefesos, sejam herdeiros ou não. Hierarquia existe sim, só que não funciona assim, mas com preparo e educação, indo do "com licença" ao "obrigado". Carente disto, age a grito mesmo... E ainda confunde EDUCAÇÃO com MEDO.


Você quereria um pai assim?

8 comentários:

  1. Meu amigo, que texto maravilhoso!!!! Texto com uma mensagem linda, nos fazendo refletir sobre a maneira como nossas crianças estão sendo criadas, e não querendo generalizar... estão perdendo sua infância, esta que está a mercê de pessoas estressadas, que fazem de tudo para dar um basta a criatividade de um ser que, com certeza, teria muito para tornar-se um adulto com saúde, inclusive mental e emocional. E como serão seus frutos? Por aí vai... E como já dizia o poeta: "Aí caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade..." rsrs
    Parabéns Luciano!
    Magda

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  2. Querido Luciano, Este texto salienta as atitudes de pais machistas, autoritários e sem o mínimo de amor aos filhos.Infelizmente em nosso país esse tipo de comportamento ainda predomina por conta da falta de cultura, educação e amor. Mas ainda devemos ter esperânças de um dia mesmo que distante possamos ver apenas criânças felizes junto a pais amorosos e compreensivos. Um ótimo texto p/ repensarmos nossas atitudes no futurro. Sinto porque esses pais jamais irão ler o que escrevestes, isso seria uma forma de ajudá-los a serem mais condecendentes e não podar a criatividades dos filhos! Um abraço! Deni

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  3. Luciano ,
    li seu texto e fiquei triste , não tanto pela pobre criança , mas por saber que ainda hoje existem pais aaim : incapazes de amar , de entender , de ser verdadeiros pais .
    Quem sabe um dia , é o meu sonho , haja mais amor , compreensão e respeito dos pais , para que os filhos possam aprender com eles . Quem sabe assim as familias serão verdadeiras familias e não um grupo de pessoas . Um grande abraço , meu querido , com carinho MAriana Frazão

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  4. Luciano !
    Li e reli o texto, penso que para um pai agir dessa forma ele não deve ter sentimento algum ou de repente pense que seja um homem agindo assim, quando na verdade pode-se compará-lo , sem sombra de dúvida à um rato nojento que deveria se enfiar numa toca e comer vermes, pois é isso que ele vômitou, quando se dirigiu à filha dizendo coisas tão ridículas e nojentas . Fico me perguntando, será que realmente ele sabe o que é ser pai? Será que sabe que sua filhinha irá crescer e que terá que enfrentar esse mundão de meu Deus e que para ser bem tratada como pessoa, ela necessitaria de uma boa educação para poder enfrentar os obstáculos da vida. Não,com certeza só quis bancar o machão, se achando o tal, vômitando tantas palavras sordidas e nojentas para uma criaturinha que com certeza, não esperava isso, mas sim um caloroso e sincero abraço do pai,de ser acarinhada e amada para se sentir feliz. Maravilha de texto, tomara que sirva para acordar certos pais a agiram melhor com seus filhos, parabéns Luciano. Um beijo, com muito carinho. Valdirene De Nardi

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  5. Querido Luc
    Adorei seu texto, em minha profissão é comum encontrar crianças completamente desprovidas da herança mais sublime que Deus nos deixou, o AMOR. Luc, embora esse pai, e muitos outros, seja a própria figura do mal, não posso e nem devo julgá-lo. Quando me deparo com casos como esse, à noite peço a Deus que dê discernimento a esse pais, para que possam ter a compreensão do mal que estão fazendo a seus filhos. Bjus da Jú.

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  6. Luciano.
    O modo como escreves não deixa nem sombra de dúvidas.És escritor com um talento nato. Consegues com tuas metáforas, eufemismos e afins,expor a alma humana,ou melhor,a alma desumana de um pai que não faz jus à palavra,pois os danos causados a essa criança podem ser irreversíveis. Sou otimista, positivista, mas diante de narrativas como essas,fico na dúvida.Será realmente que a humanidade tem jeito? Me entristece saber que casos como esse estão bem mais próximos de nós do que imaginamos.Como professora de uma escola de periferia já vi casos parecidos e a vontade que tenho é indecente demais para ser postada aqui.

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  7. Estsa história é muito real e acontece mais em famílias que não seguem uma religião.NÃO TEM UMA VIVÊNCIA CRISTÃ!O abraço, o beijo, o carinho entre pais e filhos em algumas famílias não existe e isto vai se tornando uma corrente, passando esta atitude de pais para filhos!É terrível pensar que existem pais com atitudes semelhantes a da história do prendedor.

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  8. Querido amigo, está história é uma pura realidade mas em geral todas as crianças gostam de brincar com objetos estranhos (mesmo tendo muitos brinquedos) vejo pelo meu neto troca todos os brinquedos pelo meu cestinho de prendedores e faz a festa....Mas neste caso o pai é um inorante e sem istudu, que só preocupou em brigar com a menina...Falta de amor e compreesão é o principal motivo de surras nas crianças...hummm adorei o texto e vale muito com aprendizado. Bjus Gladis

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