segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Além...

Está em casa? Então olhe ao redor... Num relance percebe quanto há à volta, começando pelo conforto? Muito, não?

Pois é, certamente está tudo ao alcance, bem organizado e onde descortina o seu toque de arte, tornando o conjunto harmonioso, além de aconchegante. São assim as nossas casas e sob esta ótica não há do que se queixar, não é mesmo?

Mas na próxima saída, independente do modo, detenha-se e focalize bem algumas coisas pelo caminho. Na paisagem do trajeto talvez encontre algum inquilino da intempérie, lugar comum nos grandes centros. Observe bem, pois este, salvo exceções, também possui coisas ao redor, entretanto, em número sensivelmente inferior à dezena, quiçá próximo à unidade. Entre a infra-estrutura, para compor o habitat, estão, em geral, restos de papelões, amorfos e resultado de desmontes, além de folhas de jornais amarfanhadas e quase irreconhecíveis. Não raro, um cão magrelo e anônimo é seu fiel companheiro.

O personagem ficcional abordado aqui, na verdade, existe, mas goza de anonimato, porque sequer se sabe seu nome ou a razão daquele modus vivendi.

Às vezes até goza do aconchego de algum albergue, onde recebe tratamento diferenciado, uma alimentação saudável – mesmo não sendo lauta. Todavia, é uma situação efêmera, não excedendo, quem sabe, parcas horas. Entretanto, melhor isso a nada, não é?

Enfim, será que veremos tais situações sempre da mesma forma, isto é, além, muito além?...

Independente das causas e embora não sejamos a solução, poderíamos ser, no mínimo, o caminho do primeiro passo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

É "pobrema" deles...!

Não sou contra carroças e/ou carroceiros. Entretanto, quando há abusos, como desrespeito às regras de trânsito, excesso de carga e agressões covardes contra os cavalos (ou burros), quem não se revolta?

Sem exagero, parecem montanhas em movimento, muitas vezes “pilotadas” por crianças, às vistas dos demais passageiros, os quais se confundem com a carga, pois vão acomodados em meio à sucata. Normalmente é a família. Verdade!

O mérito da situação até é aceitável, menos o modus operandi, afinal, cruzam a cidade, ida e volta, percorrendo distâncias sacrificantes à capacidade do animal, sem contar o uso de trabalho infantil, independente de ser familiar, porque estas crianças deveriam ter ocupação compatível: escola, por exemplo.

Faz pouco e já era noite quando vi uma dessas carroças inadequadamente “estacionada” e sem sinalização. A oportunidade ensejou uma breve troca de palavras com os “tripulantes”, enquanto se acomodavam no veículo, para seguir a viagem de regresso. Quatro pessoas!

Mesmo estando na cara, perguntei se não era muito peso para o animal. Desconfiado, o “porta-voz”, um menino com cerca de oito ou nove anos, segurando as rédeas, disse ser “pobrema” deles. A resposta não surpreendeu, mesmo se ele tivesse dito “poblema”.

Esta é a visão deles, enquanto a nossa fica à margem da dimensão deste problema, começando pela falta de empenho das autoridades em forçar a escolarização destas crianças e não fazer vistas grossas ante o “dever” diário de catar lixo, sob ordens de pai e mãe, com raras exceções.